Anjo
A divindade eloquente do seu rosto suprimia qualquer necessidade de palavras; beber a sua luz era mais importante do que tentar captar pormenorizadamente cada traço equilibrado e harmonioso que o compunha: à sua face andrógina e límpida, de olhar iridiscente e penetrante, boca suave, qual arauto do Paraíso, cabelos curtos e delicadamente encaracolados numa massa negra e esbelta, ao seu corpo esculpido em frágil barro luminoso, um espelho da alma de cada ser humano, simultaneamente belo e sensível, às suas asas de penas longas e brilhantes, traços confundidos com um fulgor inumano, reveladoras da beleza que a mácula dos mortais não conseguiu turvar. Ele, sim, revelara-se tudo o que a terra renega: a perfeição, inata e imutável.
Ele sabia-se uma mentira fatal, uma fonte de amor que traria poética perdição a este mundo.
Ele sorriria agradavelmente no seu próprio abismo
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