Suicídios Anónimos
Suicídios Anónimos
Passeia-se pelo cérebro, uma bala, invejando o desfilar criativo da lâmina, que se pavoneia num palco de artérias e veias. Ambas ignoram o despejar febril de valium, descendo livremente pela garganta como se de água se tratasse, e como água acompanha absinto, sempre facilitando a deglutição e deturpando a percepção. Sim, o alcoól decerto adormecerá as garras da consciência o suficiente para estas resvalarem sem danos maiores a alma em fuga.
Algures, um banco peca por excesso, de ciúmes neste particular caso: tomba por amor e inveja, oferecendo-se ao poderio gravitacional que, naqueles precisos e preciosos segundos, lhe pertence como nenhum outro amante lhe pertenceu. O corpo que nele repousava, erecto e espectante, cai copiosamente, mas a corda que se lhe abraçava ao pescoço, assolada por desespero, agarra-o em força, numa luta desigual; qual será o objecto que alguma vez poderá medir forças com a gravidade e declarar-se victorioso?
A derrota aproxima-se; sente-o o banco, estremece-o o corpo, ressente-o a corda; espasmos mórbidos espalham-se por toda a sua estrutura. Felizmente, segundos depois, alivia-se-lhe o sofrimento com o suave acalmar da garganta, desviada da sua mortal paixão pela força que a todos nos atrái. Os seus pés baloiçam, pálidos, zombando do chão.
E zombar do chão será, nos dias que correm, um feito suicida, especialmente nas frequentes ocasiões em que dele nos separam um passo em frente e dezenas de metros para baixo. O vento, coitado, açoita e avisa em desespero. Sem sucesso, evidentemente, pois o fascínio é demasiado arrebatador.
Segue-se o mergulho. A pique. Olhos apelam à capa protectora das pálpebras "Escuda-nos do vento!", desprendendo-se do seu canto lágrimas masoquistas. O Coração palpita como se a adrenalina fosse ferro incandescente que o espicaça, diástoles e sísoles cegando os ouvidos para o tempo em corrida. Apenas 100 metros; quantos segundos? E logo, logo o tempo acelera o colapso da face sem cara contra o porta-bagagens de um qualquer carro, cujo acto de heroísmo poupou ao chão um acidente macabro e sujo.
Uma a uma, caras apagam-se. Para trás deixam faces, miseráveis e solitárias, numa eterna procura da luz que se foi...daí os suicídios anónimos: porque a luz era tudo.
Sim; porque na vida deveria bastar o amor, o ser, o viver. Abatem-se as luzes e tudo passa a ser um conluio sacrílego onde se substitui o divino e humano por lanternas e pilhas.
Suicídios anónimos porque já nada mais serve; não é querer morrer, é não querer viver.
E é assim que empalidece a face oca; em busca de uma outra luz
Passeia-se pelo cérebro, uma bala, invejando o desfilar criativo da lâmina, que se pavoneia num palco de artérias e veias. Ambas ignoram o despejar febril de valium, descendo livremente pela garganta como se de água se tratasse, e como água acompanha absinto, sempre facilitando a deglutição e deturpando a percepção. Sim, o alcoól decerto adormecerá as garras da consciência o suficiente para estas resvalarem sem danos maiores a alma em fuga.
Algures, um banco peca por excesso, de ciúmes neste particular caso: tomba por amor e inveja, oferecendo-se ao poderio gravitacional que, naqueles precisos e preciosos segundos, lhe pertence como nenhum outro amante lhe pertenceu. O corpo que nele repousava, erecto e espectante, cai copiosamente, mas a corda que se lhe abraçava ao pescoço, assolada por desespero, agarra-o em força, numa luta desigual; qual será o objecto que alguma vez poderá medir forças com a gravidade e declarar-se victorioso?
A derrota aproxima-se; sente-o o banco, estremece-o o corpo, ressente-o a corda; espasmos mórbidos espalham-se por toda a sua estrutura. Felizmente, segundos depois, alivia-se-lhe o sofrimento com o suave acalmar da garganta, desviada da sua mortal paixão pela força que a todos nos atrái. Os seus pés baloiçam, pálidos, zombando do chão.
E zombar do chão será, nos dias que correm, um feito suicida, especialmente nas frequentes ocasiões em que dele nos separam um passo em frente e dezenas de metros para baixo. O vento, coitado, açoita e avisa em desespero. Sem sucesso, evidentemente, pois o fascínio é demasiado arrebatador.
Segue-se o mergulho. A pique. Olhos apelam à capa protectora das pálpebras "Escuda-nos do vento!", desprendendo-se do seu canto lágrimas masoquistas. O Coração palpita como se a adrenalina fosse ferro incandescente que o espicaça, diástoles e sísoles cegando os ouvidos para o tempo em corrida. Apenas 100 metros; quantos segundos? E logo, logo o tempo acelera o colapso da face sem cara contra o porta-bagagens de um qualquer carro, cujo acto de heroísmo poupou ao chão um acidente macabro e sujo.
Uma a uma, caras apagam-se. Para trás deixam faces, miseráveis e solitárias, numa eterna procura da luz que se foi...daí os suicídios anónimos: porque a luz era tudo.
Sim; porque na vida deveria bastar o amor, o ser, o viver. Abatem-se as luzes e tudo passa a ser um conluio sacrílego onde se substitui o divino e humano por lanternas e pilhas.
Suicídios anónimos porque já nada mais serve; não é querer morrer, é não querer viver.
E é assim que empalidece a face oca; em busca de uma outra luz
1 Comments:
Sonhos com pessoas cor-de-laranja
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