Nunca Virás
Vieste com as ruas sem fim; Vieste com os becos nas noites frias despidas de céus, onde as lanternas dançam lasciva e secretamente com as estrelas; Vieste com o frio do Verão, a brisa estéril do que nunca virá a ser nosso; Vieste com a eutanásia do mundo, a piedade para com este globo moribundo; Vieste com o aglutinar da vida, com a escuridão do Paraíso;
Vieste com a suspirada constatação das ilações indesejadas; não vieste, pois não?
E o eco gritado das palavras sem voz preenche a lacuna infindável do meu ser; E os corpos brincam entre si como convites para o desejo alheio, provocando um qualquer paladar doce nesta boca que te pertece sem o quereres; E o sangue perde-se na chama sem vida das estradas atrozes, fáceis, curtas, secantes e viciosas; E os lábios fundem-se, gelados, com uma boca qualquer, numa vã tentativa de calar os pensamentos tortuosos que sufocam o coração;
Pobre memória do que nunca fomos.
Pobre criança que já não sou.
Pobre inocência, empalada.
E tudo o que sobra é tristeza; e é na tristeza orgásmica que perdemos a certeza do ser. Morramos, então. Definharei, insensível, fatalista, cruel.
Pudera eu não ser um cobarde. Pudera eu saber-me viver.
Definharei, então. Lábios seguirão os caminhos putrefactos das bocas que já não podem beijar, das peles que já nem desejam sentir, das vidas que já não se podem expressar. Apodrecerei, então.
E tu não virás, não serás, não me levarás daqui, deste cemitério caridoso, desta piedade que me mata a cada inspiração, deste atrofio mental.
Porque tu não existes.
Vieste com a suspirada constatação das ilações indesejadas; não vieste, pois não?
E o eco gritado das palavras sem voz preenche a lacuna infindável do meu ser; E os corpos brincam entre si como convites para o desejo alheio, provocando um qualquer paladar doce nesta boca que te pertece sem o quereres; E o sangue perde-se na chama sem vida das estradas atrozes, fáceis, curtas, secantes e viciosas; E os lábios fundem-se, gelados, com uma boca qualquer, numa vã tentativa de calar os pensamentos tortuosos que sufocam o coração;
Pobre memória do que nunca fomos.
Pobre criança que já não sou.
Pobre inocência, empalada.
E tudo o que sobra é tristeza; e é na tristeza orgásmica que perdemos a certeza do ser. Morramos, então. Definharei, insensível, fatalista, cruel.
Pudera eu não ser um cobarde. Pudera eu saber-me viver.
Definharei, então. Lábios seguirão os caminhos putrefactos das bocas que já não podem beijar, das peles que já nem desejam sentir, das vidas que já não se podem expressar. Apodrecerei, então.
E tu não virás, não serás, não me levarás daqui, deste cemitério caridoso, desta piedade que me mata a cada inspiração, deste atrofio mental.
Porque tu não existes.
2 Comments:
Ainda dizes que eu escrevo bem. Fode-te lá!
"com a escuridão do Paraíso" fez-me lembrar um dos "Contos Exemplares" da Sophia...
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