Friday, September 14, 2007

Prólogo

Isto é um texto para o meu livro. É o seu prólogo, para ser mais exacto. Fica aqui, juntamente com o meu pedido de críticas e comentários que são obviamente agradecidos.

Destruí o mundo. Que estranho.
Há momentos atrás, o deserto empoeirado que se estende em meu redor era uma cidade. Fui em quem a devastou. Há momentos atrás, dois exércitos, um que me pertencia e outro que me pretendia destruir, batalharam aqui - naves colossais, veículos de guerra metálicos e magníficos, homens e mulheres, espécies antropomórficas, ideais a colidirem como se a possibilidade de ambos partilharem um planeta fosse intolerável. Fui eu quem os pulverizou.

Fui eu o arauto apocalíptico da redenção deste planeta. A chuva apenas legitimiza a forma dramática como tudo se abate sobre mim. Acaba por transformar as minhas acções num estranho poema.

E tudo porque senti que o devia fazer. Pior; eu adquiri o poder necessário para o fazer. Transformei-me num ser de luz. Adquiri capacidades que roçam a omnipotência. Cheguei ao ponto em que me temia. Mas não mais.

Repentinamente, uma estranha dor explode no meu peito, um calor excruciante e inexplicável. Grito com todas as forças que em mim se escondem - as suficientes para perturbar o vento - vagamente consciente da subtileza com a qual o planeta em si começa a mudar. O meu corpo flutua numa posição fetal, nu.

Não consigo respirar. Não consigo compreender.
Eu destruí o mundo e só agora me apercebo de que nunca compreendi verdadeiramente os meus motivos para o fazer. Apenas...fiz.

Subitamente, a dor pára. Sou luz. Sou completa. Sou...um novo ser. E a compreensão chega: ou era eu, ou era o planeta. É isso. Resume-se a isso. Sobrevivência.

O mundo a meus pés já não é deserto; é uma esfera incandescente. Renasce, como eu renasci. Acorda com o meu acordar.

Está a renovar-se. Está a preparar-se. Sabe que, com o tempo, virá alguém como eu para o testar, para saber se chegou a altura...

Os meus olhos pousam no infinito, na beleza pacífica e negra acima de mim. Esperam-me algures, irmãos e irmãs celestiais, algures nas malhas do Universo.

E Acordo.

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2 Comments:

Blogger G. said...

promete... gostaria de um dia ter oportunidade de ir passear ao chiado, entrar na bertrand e ter a agradável supresa de me deparar com um livro teu... :)

Tens que me explicar que frases "perversíveis" eram essas, do poema "músculo", que te proporcionaram tal choque.

Sei que a frase "não consigo parar de olhar para o telemóvel" não é a coisa mais poética do mundo mas... era o mais directo ao assunto que poderia ser... hehe :x

Anseio por novos posts teus.

Abraço,
*G.

3:09 AM  
Anonymous Anonymous said...

Gostaria de dizer que me parece ser o mais provável: eu a ler deliciosamente o teu livro sentada num lugar vulgar como o Metro do Porto, mas sentindo um enorme calor dentro de mim... pela magia de tu seres o autor, por te teres encarreirado na vida, mas muito pelo dom que tens. Escrever não é facil, mas tu fazes isso como ninguem. Metes grandes autores no bolso.

Tu. Tu sem caneta e papel deixasde ser o pedro! =)

Continua amor. Beijão

6:27 AM  

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