Thursday, May 29, 2008

A Dança do Morto

És aquele que regressa sempre
um cão moribundo, feio e carente
És aquele que me quer como amante
que se humilha por este prazer sufocante

És um verme pisoteado de pila curta
divorciado falido de uma prostituta
Limpo os pés na tua auto-estima de aluguer
e apago recordações da tua mulher

Mas eis que tentas evadir-te do meu mal
onde pensas fugir, minha sanguessuga social?
O meu amor é o teu cancro, volta para mim
odeias-te demasiado para me deixares assim

E porque és aquele que sempre regressa
Febril reflexo de venérea doença,
Num canto de uma rua - o nosso altar -
Faço os possíveis para acabar de te matar.






(e é assim que as drogas fazem mal)

Friday, May 23, 2008

Este Palco

As pessoas dançam, sempre bonitas
Sempre brilhantes e bem vestidas,
Sentem-se usando as mãos, apenas,
E fingem com esse toque sentir-se pequenas

A música inebria, convincente,
Num tom sempre feliz e algo aparente,
Quando uma nota falha, o público nem sente
A letra dita o coração e abafa a mente.

Rodopiam as pessoas, tão bonitas
E trocam entre si, sempre perfeitas
Uma tropeça; está cansada
Caem-lhe vinte em cima; uma maçada

Dançam e calcam com um sorriso,
Elogiam e atropelam o amado vizinho,
Rasgam vestidos sem ninguém ver
vestem o cadáver de quem quer viver

Dançamos todos ao som desta música
Dirigida por um grandioso maestro invisível
Masturbador dos sonhos de uma banda submissa

A vida promete-nos pés cansados

Wednesday, May 21, 2008

O Mundo muda ((vivem as quatro da manhã!))

O sorriso é brindado com vinho
O cão enxotado à vassourada
A criança abraça o padrinho
A carta perde-se na estrada

e o mundo Muda

O mendigo arrasta-se sozinho
O amante procura a morada
A chuva abre caminho
A terra fica arrasada

e o Mundo muda

Um menino aprende a contar
uma socialite decide passear
e o mundo Muda

Aquele casal festeja a união
Notícias de mortes no Irão
e o Mundo muda

O incauto lacera o braço
A luta contra Sida dá um passo
e o mundo Muda

Mulheres rendem, peixes vendem
calças rasgam, tarados raptam
aluno copia, trolha assobia
poeta adoece, anónimo falece
presidente espirra, bebé faz birra,
minorias rebelam-se, americanos lavam-se
paparazzi interrompe, dinheiro corrompe
ateu peca, Papa defeca


E o Mundo muda
- penso eu, dizes tu,
ouvimos por eles -

e nada chegou a Mudar
- criticam eles,
comentas tu, ignoro eu -

Porque o meu Mundo muda
- sei-o eu, calas-te tu,
coscuvilham eles -
e o vosso lá se terá de desenrascar.

Wednesday, May 07, 2008

O Cinismo Cria Raízes

Maria acreditara no amor verdadeiro,
nas rosas primaveris jamais desbotadas,
até encontrar o marido com um enfermeiro,
vergado de joelhos, as pernas bem afastadas.

Agora, viúva, sorri cheia de razão:
o amor verdadeiro pagara-lhe a pensão.

Jovem Afonso sempre fora muito apaixonado,
o seu grande coração recheado de amor para dar.
corria mulher solteira, casada ou com namorado,
amando cada uma sem parar para descansar.

Os chatos não acalmaram o seu calor de amante,
nem a penicilina servida em doses de elefante.

Inês era misteriosa virgem constantemente acanhada,
aos vinte e três anos sonhava com o eterno amor,
encontrou o homem da sua vida numa qualquer encruzilhada,
cansou-se após um ano de discussões e rancor.

Descubriu da pior maneira o que o "eterno" faz:
cancerígeno cinismo, o fim de toda a paz.

O Amor faz de nós seres doentes,
é fraca religião num mundo sem crentes.
Acendam a vela; a vossa vez há-de chegar;
tudo dura para sempre até finalmente acabar