Thursday, September 20, 2007

Pensamentos Alheatórios numa Quinta-Feira

1 - Se não libertar a raiva filha da puta que sinto dentro de mim algo de mau ainda vai acontecer

2 - Há gente que podia ter evitado perder o seu tempo comigo se me tivessem dito que sentiam que eu sou uma perda de tempo

3 - I know a man who makes me wanna kill

4 - Preciso de uma razão para não pensar na inevitabilidade da morte quando me deito

5 - 3 e 30 não são horas para deitar

6 - Não, não é belo

7 - Ah, fodasse tudo tudo tudo tudo tudo

Wednesday, September 19, 2007

Marie Anne

Marie Anne era uma jovem desejável:
alta, morena, peito invejável,
corpo sensual, sorriso impecável.
Marie Anne era pouco inteligente,
dedicada ao álcool (sempre insuficiente)
e ao sexo anónimo (como muita gente).
Marie Anne nem sempre se protegia:
engravidou de um amigo; ele nada sabia.
O bébé chorava; a mãe fugia.
Marie Anne teve a família perfeita:
três filhos, um marido - mulher feita
- quem torto insiste, por vezes endireita.
Marie Anne afirmou conhecer a vida:
perdera amigos, familiares, uma mãe suicida.
Ultrapassara muita da dor sofrida.
Marie Anne, um dia,
deliciosamente bem vestida,
chegou a casa exalando alegria!
Marie Anne, nesse mesmo dia,
foi violada,
a casa roubada,
os filhos assassinados,
os cadáveres desfigurados,
o marido queimado vivo,
tudo o que tinha de bom e seguro, perdido,
e os culpados conseguiram escapar.
Ah, Marie Anne,
devias ter sabido,
devias ter-te protegido,
é para isso que serve o preservativo,
mas agora é tarde,
e aprendeste mais sobre a vida
por isso sorri!

Friday, September 14, 2007

Prólogo

Isto é um texto para o meu livro. É o seu prólogo, para ser mais exacto. Fica aqui, juntamente com o meu pedido de críticas e comentários que são obviamente agradecidos.

Destruí o mundo. Que estranho.
Há momentos atrás, o deserto empoeirado que se estende em meu redor era uma cidade. Fui em quem a devastou. Há momentos atrás, dois exércitos, um que me pertencia e outro que me pretendia destruir, batalharam aqui - naves colossais, veículos de guerra metálicos e magníficos, homens e mulheres, espécies antropomórficas, ideais a colidirem como se a possibilidade de ambos partilharem um planeta fosse intolerável. Fui eu quem os pulverizou.

Fui eu o arauto apocalíptico da redenção deste planeta. A chuva apenas legitimiza a forma dramática como tudo se abate sobre mim. Acaba por transformar as minhas acções num estranho poema.

E tudo porque senti que o devia fazer. Pior; eu adquiri o poder necessário para o fazer. Transformei-me num ser de luz. Adquiri capacidades que roçam a omnipotência. Cheguei ao ponto em que me temia. Mas não mais.

Repentinamente, uma estranha dor explode no meu peito, um calor excruciante e inexplicável. Grito com todas as forças que em mim se escondem - as suficientes para perturbar o vento - vagamente consciente da subtileza com a qual o planeta em si começa a mudar. O meu corpo flutua numa posição fetal, nu.

Não consigo respirar. Não consigo compreender.
Eu destruí o mundo e só agora me apercebo de que nunca compreendi verdadeiramente os meus motivos para o fazer. Apenas...fiz.

Subitamente, a dor pára. Sou luz. Sou completa. Sou...um novo ser. E a compreensão chega: ou era eu, ou era o planeta. É isso. Resume-se a isso. Sobrevivência.

O mundo a meus pés já não é deserto; é uma esfera incandescente. Renasce, como eu renasci. Acorda com o meu acordar.

Está a renovar-se. Está a preparar-se. Sabe que, com o tempo, virá alguém como eu para o testar, para saber se chegou a altura...

Os meus olhos pousam no infinito, na beleza pacífica e negra acima de mim. Esperam-me algures, irmãos e irmãs celestiais, algures nas malhas do Universo.

E Acordo.

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Tuesday, September 11, 2007

Anjo

A divindade eloquente do seu rosto suprimia qualquer necessidade de palavras; beber a sua luz era mais importante do que tentar captar pormenorizadamente cada traço equilibrado e harmonioso que o compunha: à sua face andrógina e límpida, de olhar iridiscente e penetrante, boca suave, qual arauto do Paraíso, cabelos curtos e delicadamente encaracolados numa massa negra e esbelta, ao seu corpo esculpido em frágil barro luminoso, um espelho da alma de cada ser humano, simultaneamente belo e sensível, às suas asas de penas longas e brilhantes, traços confundidos com um fulgor inumano, reveladoras da beleza que a mácula dos mortais não conseguiu turvar. Ele, sim, revelara-se tudo o que a terra renega: a perfeição, inata e imutável.

Ele sabia-se uma mentira fatal, uma fonte de amor que traria poética perdição a este mundo.

Ele sorriria agradavelmente no seu próprio abismo