Friday, March 28, 2008

Cabelo ao Vento

 A tua cara foi abrigo,
 Foi eterno e terno carinho;
 Nela se espelhava o meu caminho
 Nela sentia-te sempre comigo

 Onde está a ela agora?

 Os teus dedos foram amor
 Foram suspiro delicado e intimidade
 Contavam-me histórias de lealdade
 Afastavam-me da tua falta de pudor

 Quem acariciam eles agora?

 Contigo, a vida era flutuar,
 Era saltar de uma carícia para a seguinte.
 E agora, carente como um pedinte
 Sinto-me perdido, sem saber regressar

 Onde estás tu?

 Abandonado pelo momento
 Aguardo a ruptura final;
 Recordo que o amor faz mal
 Pois sou mísero cabelo ao vento

Tuesday, March 18, 2008

A Salvo Contigo

  A silhueta dela debate-se contra o crepúsculo. Os seus cabelos negros, perfeitos, imaculados, permanecem imunes à brisa suave. Vejo-a assim, contra a luz, os reflexos dourados desenhando um kimono de seda, rosado, repleto de motivos florais vivos e sugestivos. É como se eu conseguisse cheirar pólen trazido pelas carícias do vento. A sua arma é um guarda-chuva, leve, suave, transparente, delicado e sedutor. Dir-se-ia que são um só.

 Remo sobre as ruínas da civilização, sobre a glória de outrora. Sempre remei, é o que eu faço, o meu dom. O meu pai uma vez disse-me que eu iria remar pelo mundo fora. Acertou. Esta nossa pequena embarcação de madeira, de aparência frágil, carrega-nos robustamente por entre pedaços dos séculos passados, cidades inteiras afogadas num cenário apocalíptico digno de Noé e da sua Arca. Não temos porto nem companhia. Sou só eu, ela e as gaivotas.

 O Sol começa a desaparecer por entre o aço de antigamente. A ilusão morre. Os seus belos trajes, o seu cabelo imaculado, a sua forma, tudo muda. No entanto, esta mulher que substituiu a Dama Dourada leva-me sempre a uma qualquer tragédia moderna. Talvez seja do seu fato amarrotado, dos seus cabelos longos e selvagens, da sua expressão apática e austera, da sua elegância esfomeada, do seu guarda-chuva dobrado. Dir-se-ia que, a qualquer momento, uma adaga guiada pelas suas próprias mãos lhe virá roubar a vida, vertendo uma agonia Shakesperiana sobre os seus trajes.

 Já não falamos há semanas. Ambos sabemos porquê: ela é a Dama Dourada e eu sou o homem que rema. Ela chora em silêncio e eu pesco. Ela grita para as gaivotas e eu durmo. Ela trás o mundo às costas e eu só a levo a ela. Mas ambos perguntamo-nos a toda a hora: Poderíamos existir um sem o outro, eu sem ela, ela sem mim? Poderia eu resistir à chuva sem o seu amparo? Poderia ela atravessar o mar sem o meu dom? Não sabemos responder, mas sabemos as respostas. Talvez seja por isso que eu reme e ela chore.

 A noite chega, inevitavelmente, abafando as formas daquela mulher uma vez mais. Continuo a remar. A escuridão não me assusta. Consigo adivinhar a sua silhueta sombria sob os raios lunares, erecta e vigilante, insone. Continuo a remar. A cabeça não me pesa, não tenho sono. Os meus braços não cedem, a fome não me sufoca. Continuo a remar. Eu e ela, ela e eu. Fustigado pela chuva, continuarei a remar. Queimado pelo Sol, continuarei a remar. Por nós. Por mim. Por ela.

 Acho que vou morrer assim. Eu e ela - as gaivotas - ela e eu. A Dama Dourada diz-me para não desistir com um simples olhar; Continuarei a remar, pelo crepúsculo eterno, pela suavidade das águas, sobre os dias de outrora, à espera do próximo amanhecer. Fraco ou febril. Derrotado ou vencedor. A luz virá novamente; salvar-nos-emos quando o menos esperarmos. Conseguiremos escapar ao fim.

 Por isso é que as vozes nos cantam

 "Subnutrido, murmura"

 Dama Dourada. Minha silhueta perfeita recortada pelo fogo da tarde. Milagre!, como o sorriso que desfaz o teu trágico nó da gravata, limpa as imperfeições do teu fato, repara o teu guarda-chuva, abrilhanta o teu cabelo, me alegra a alma mais do que chegar onde chegamos! O teu semblante subitamente leve traz-me vómitos de felicidade!

 "Milagre"

 fomos nós os dois, vogando noite e dia, amaldiçoados pelo tempo e pelo mar sem fim. Foste tu, que me deste forças para continuar. O meu Dom; remar. E as mãos que me retiram o remo como quem acaricia um recém-nascido, as mãos que me salvam desta viagem sem fim, elas sabem o milagre que fomos, Eu e Tu e o Crepúsculo e as Gaivotas. Estas mãos...elas lembram-me, elas dizem-me, o quanto eu estou

 "Vivo"

 como tu estiveste para mim; viva a cada segundo, olhando em frente, chorando em silêncio, sorrindo qual perfeita ilusão aquando do mundo que se suicidou, sendo como eu gostava de ter sido enquanto remava remar. E agora aqui estamos nós, juntos, eu e tu, eternamente

 "A salvo"

 contigo.

Monday, March 10, 2008

São três da manhã

 e continuo na mesma. Não na mesma, vá, quase igual mas não tanto

problemas vêem aí, aparentemente. estou sem cabeça para eles. não tenho cabeça para nada. devia estar a dormir, vêm?  e aqui estou, a escrever.

estou derrotado, mais do que derrotado, mas, para já, não consigo aceitar a derrota. vou continuar a sonhar com a mesma pessoa até passar (sei lá quanto tempo é que demorará, mas isso é outra história) algo dentro de mim faz-me pensar que ele ainda poderá sentir antes que o que eu sinto morra, ou seja vedado com "police only" ou algo assim

não consigo fazer arte (o que quer que isso queira dizer). tempestades aproximam-se. o meu corpo continua a deixar-me apreensivo. enfim, muitas coisas. temo por ela. gosto dos meus amigos.

fiquei desapontado.

são três da manhã. 

gostava de fazer poesia.

fica para outra altura

Tuesday, March 04, 2008

tenho sono

já te fui desonesto, e mesmo a sim vieste a saber que não te tinha contado a verdade apesar de tu próprio teres desconfiado, pergunto-me, no entanto, se duvidas de ti e do que te foi dito e achas que o que sinto por ti não existe ou é produto da tua imaginação. Tenho medo de relações, não do compromisso mas da "coisa" em si, e sei que tens razões para ter medo de igual modo, mas quando estamos juntos parece que caminhamos de forma a nos aproximar-mos o mais possível, somos tão parecidos mas mesmo assim distintos, há tanta coisa em ti que eu gosto, a minha mente trai-me tantas vezes, eu queria mesmo era saber se tenho uma hipótese ou se tu pura e simplesmente tens a certeza de que não dá. As tuas palavras pareceram-me assertivas na altura, mas o que demonstras é tão diferente...

não tenhas medo de dizer a verdade; não te vou exigir mais do que aquilo que podes dar, não te quero forçar a nada, e não me magorás mais com a verdade do que com esta minha existência de incerteza.

tenho de falar contigo, mas tenho tanto medo -_-